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Corujinha-do-sul Megascops sanctaecatarinae (Salvin, 1897)
Ordem: Strigiformes | Família: Strigidae | Monotípica


Indivíduo adulto. Foto: Matias H. Ternes

Corujinha de distribuição restrita ao sul do Brasil, encontrada em florestas semi-abertas, mata-de araucárias, matas ciliares e capoeiras. É principalmente insetívora; durante o período reprodutivo, entre agosto e setembro, os machos começam a vocalizar com mais frequência, tornando-se ativos assim que anoitece, ou, ocasionalmente no crepúsculo.


Descrição:
Mede de 25-28 cm de comprimento, peso de 155–194 g (macho) e 174–211 g (fêmea) (Holt et al. 1999). Assim como as outras Megascops, apresenta três padrões básicos de coloração de plumagem, marrom, cinza e ferrugínea, com variações individuais, sendo a forma marrom a mais comum. A íris também é variável, pode ser amarela ao castanho-escuro. Adulto (forma marrom), possui dorso marrom-escuro, com partes inferiores mais claras e destacadas estrias escuras; face marrom com borda dos discos faciais mais escura. Nas outras formas de plumagem, a face e o dorso-marrom escuro é substituído por marrom-ferrugíneo (forma ferrugínea) ou por cinza-escuro (forma cinza). Possui tufos de penas no alto da cabeça, bem destacados, parecendo “orelhas”; tarsos são emplumados até a base dos dedos.

Espécies-similares: É muito parecida com as outras corujinhas do gênero Megascops que ocorrem em sua área de distribuição (M. choliba M. atricapilla) o que dificulta sua identificação, sendo a vocalização o meio mais seguro para identificar a espécie.

Em relação a vocalização, o canto do macho é muito parecido com o da corujinha-sapo (M. atricapilla). Dentre as diferenças, o macho da M. sanctaecatarinae tem um canto mais curto, de 6 a 8 segundos, com notas mais lentas e com aspecto ventriloquial, dando a impressão de que duas aves cantam simultaneamente (isto é evidente em sonogramas, onde os harmônicos muito proeminentes dão uma impressão de que há uma segunda voz acima das notas básicas), enquanto que a M. atricapilla possui um canto mais longo, que dura de 8 até 15 segundos, com uma sequência de notas mais rápidas, e é encerrado de forma mais abrupta. Porém, há cantos que são complexos, com padrões intermediários entre as duas espécies, o que pode indicar a existência de indivíduos híbridos em localidades onde ambas espécies ocorrem.

Dieta e comportamento de caça: Alimenta-se principalmente de insetos, como gafanhotos, besouros, cigarras e mariposas; também pode caçar aranhas e pequenos vertebrados. Caça suas presas a partir de um poleiro, capturando-as em galhos, folhas ou no solo.

Reprodução: Nidifica em ocos de árvores ou em ninhos de pica-pau de grande porte. Apenas a fêmea incuba os ovos, sendo alimentada pelo macho nesse período. O período reprodutivo no sul do Brasil inicia-se entre agosto e setembro (obs. pess. W. Menq). Mas há exceções, em Missiones, Konig & Weick (2008) registraram a espécie cantando em dueto no início de novembro, provavelmente em exibição nupcial. No mesmo local, os autores registraram um casal cantando em dueto no final de agosto.

Bichinski (2012) monitorou três ninhos no município de Piraí do Sul, Paraná. O primeiro ninho, localizado em 2009, foi encontrado em um oco de árvore construído por um Colaptes melanochlorus (pica-pau-verde-barrado), no interior de um pequeno fragmento florestal e próximo a habitações humanas e áreas agrícolas. No ano seguinte, foi localizado um ninho na mesma cavidade, porém, devido à quebra da árvore, a cavidade sofreu alterações no seu formato e diâmetro. Em ambas as nidificações, foram encontrados dois filhotes no interior da cavidade. Já o terceiro ninho, encontrado em 2011, estava instalado no interior de uma cavidade natural oriunda da decomposição de uma árvore morta, localizada na borda de um fragmento florestal.

Distribuição Geográfica: Ocorre na porção sul da Mata Atlântica, desde o sul de São Paulo (P. E. Intervales), leste e centro-sul do Paraná até o Rio Grande do Sul, além do nordeste da Argentina (Missiones) e Uruguai.

Habitat e comportamento: Vive em florestas semi-abertas, mata-de-araucárias, matas ciliares e capoeiras, evitando florestas mais densas; ocorrendo desde o nível do mar até 1.000 m de altitude, sendo simpátrica com M. choliba e M. atricapilla. Também pode ser encontrada em borda de matas adjacentes a pastagens e parques urbanos.

Possui hábitos estritamente noturnos e ocasionalmente crepusculares. Normalmente está ativa nos primeiros minutos da noite, é uma ave bem detectável e responde muito bem a chamados de playback. Durante o período reprodutivo, entre agosto e setembro, os machos começam a vocalizar com mais frequência no crepúsculo. Durante o dia, dorme em meio à densa folhagem nas árvores e até mesmo em eucaliptais. Nas proximidades do ninho, essas aves podem tornar-se agressivas, realizando voos rasantes na aproximação de intrusos. Acredita-se que essa espécie seja subestimada nos estados do sul do Brasil devido à semelhança morfológica e vocal com suas congêneres, conforme já suposto por Accordi & Barcellos (2008).

Movimentos: Espécie residente.


:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::



Referências:

Accordi, I. A.; Barcellos, A. (2008) Novas ocorrências e registros notáveis sobre distribuição de aves em Santa Catarina, sul do Brasil. Biotemas, 21 (1): 85-93.

Bichinski, Tony (2012). Nota sobre a nidificação de Megascops sanctaecatarinae no município de Piraí do Sul, Paraná. Atualidades Ornitológicas Nº 168.

Holt, W., Berkley, R., Deppe, C., Enríquez Rocha, P., Petersen, J.L., Rangel Salazar, J.L., Segars, K.P. & Wood, K.L. (1999) Species acounts of Strigidae. Em: Del Hoyo, J., A. Elliott, e J. Sargatal, (eds.) Handbook of the birds of the world. Volume: 5: barn-owls to hummingbirds. Barcelona, Espanha. Lynx Edicions. 759p.

Konig, C. & Weick, F. (2008) Owls of the world. Segunda Edição. New Haven, Connecticut: Yale
University Press.

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Corujinha-do-sul (Megascops sanctaecatarinae) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/megascops_sanctaecatarinae.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (LC) Baixo risco

Canto (macho) (gravação: Nick Athanas)
By: xeno-canto.




Indivíduo adulto.
São F. de Paula/RS, Jul. 2013.
Foto: Willian Menq
 

Indivíduo adulto,
Curitiba/PR. Novembro de 2009.
Foto: Reni Santos
 

Indivíduo adulto.
Piraí do Sul/PR, Janeiro de 2011.
Foto:
Tony Bichinski
 

Indivíduo adulto no ninho.
Piraí do Sul/PR, Setembro de 2009.
Foto:
Tony Bichinski
 

Indivíduo adulto.
Urubici/SC, Jan. de 2015.
Foto:
Willian Menq
 

Indivíduo adulto.
Ilhota/SC, Dez de 2016.
Foto:
Willian Menq